terça-feira, 14 de novembro de 2017

Depoimento de um Sultão

     Grande nortenho do oeste, que os deuses que você depende abençoem sua chegada! Vocês adoram doze ou quatorze deles, não? Bem vindo a Khejal, onde podemos realizar os seus desejos e garantir os seus temores.

    Nossa história é deveras grandiosa e longuíssima como as serpentes de Khejal, e aprendê-la exige dedicação tamanha que muitos de nossos sábios acabam dominando serpentes em vez de história. Para suas necessidades, a simplificarei:

    Éramos tantos ou mais quanto somos agora, mas limitados por Numéria, na época em que Numéria terminava aonde os desertos de água surgiam. Dajjal, maldito sejam suas unhas-chicote de areia, guerreou com fadas e mortais por razões mesquinhas, e invocou as devastações de Vritra, querendo negar o paraíso de Dilmun a todos. Os Saptarishi o mataram e desmembraram, mas a desgraça foi feita, como atesta a desertificação que cresce a cada ano.

    Confuso Não? Na época, mais ainda, tanto que distraiu os Entes Reais, e nós, pudemos experimentar com cálamos de vidro, luz do sol e magia, para derreter todo aquele pó de adamante meteórico no ar, usando-o como tinta com a qual caligrafamos nossas quintessências nos registros elementares que descrevem este mundo, assinando-os num contrato independente das restrições numérias. Este ato é a razão de seu nome simplório para nós ser “gênios”, além de nossa sagacidade e astúcia naturais.

    Mas todo contrato tem seus termos, e o mundo de Ghara impôs alguns sobre nossa liberdade. Quase a amaldiçoamos como Dajjal, cujo olho direito de rubi que definha o que vê um dia definhará em frente a um espelho de manufatura khejali, mas já sabíamos destilar fortuna de desgraças desde então, como um bom aguardente de coco. O magnífico elefante seria nossa salvação. Seu corpanzil consegue sustentar o ritual necessário, digerindo os excessos tóxicos de magia no deserto, e acumular em seu couro o pó de adamante que corrói a tudo e todos nas tempestades de areia. Assim viajam até tornarem-se pesados demais, seu couro endurecendo em tons metálicos, seu marfim cristalizando-se em bismuto arcano. Este desenvolvimento larval culmina nos domos palacianos que vocês apelidaram de thupas, onde as duplas presas iridescentes atraem adorações devidas até eclodir a futura manada que nos permitirá viajar além deste mundo. Nossa capital demonstrou a viabilidade deste projeto, e assim será. Para assegurar este objetivo, criamos as glórias da civilização khejali, suas castas e atribuições.

    Infelizmente, os melhores locais para as thupas estão ocupados pelos oásis feéricos remanescentes, por isto destroçamos suas miragens protetoras e massacramos seus defensores selvagens, aqueles elfos nabâtu tão inquietos frente à civilização e insensíveis a nossos infortúnios.

    Mas vamos ao que interessa. Lhe garanto artigos impossíveis em suas terras. Algumas de nossas ampulhetas realizam maravilhas após serem viradas, tal como reverter um erro severo ou três. Temos lunetas capazes de visualizar o passado, em diversos alcances e amplitudes. Penas mestiças de roc e estínfalo dispensam o restante da flecha. Mandalas de quartzo e khejalita para amplificar rituais. Alguns djinni criminosos aprisionados em lamparinas estão disponíveis no estoque, mas seja rápido antes que o prazo da lei me force a jogá-los ao mar, pois lendas terríveis derivam de tais atos. E nossos preços são tão maravilhosos como nossas modéstias! Para aqueles que não dispõem de ouro, pechinchas são possíveis. Por exemplo, aceitamos a servidão vitalícia de um descendente. Poucas décadas atrás, vendi tamanhos tesouros que o cliente parcelou o pagamento em trinta prestações, um primogênito de minha escolha a cada geração. Como negar o tesouro oferecido que é o futuro de uma família?

    Seus desejos serão realizados, meu amigo nortenho do oeste! Agora vá embora, tenho um duelo sobre o dorso de elefantes ao entardecer, e depois uma concubina Yakshini robusta a gritar meus nomes. Todos eles, por isso ela precisa ser robusta, as magrinhas não tem o devido fôlego.

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